quinta-feira, 29 de maio de 2008

Narração em 1ª pessoa: A história contada por suas próprias palavras e visões.

Quarto de Recordações
Eu nunca tinha sentido tanto frio como naquela noite. Aquele chocolate quente de nada ajudava, mas mesmo assim, tomava-o indo para o quarto, onde ninguém mais dormia. Antes de entrar no quarto, dei um longo suspiro. Afinal, aquilo sempre foi um desafio para mim. Quando entrei no quarto, não foi diferente das outras vezes. Admirei cada parede, cada pedaço de chão e tudo mais que lá havia.
O quarto estava exatamente como deixei: intocado. Lá estavam a cama com a roupa de cama azul com bolinhas de futebol, os planetas luminosos que escolhi estavam no teto, os dois bonecos na bancada, um de frente para o outro, prontos para brigareme, no canto do quarto, todos os outros brinquedos nunca mais usados.
Eu parei na frente do mural de fotos que ajudei a montar, mas fui eu quem escreveu "Léo" em cima. Meus olhos já não agüentavam mais e pediam para chorar. Eles se entristeceram. Para me segurar, tive que levar minha mão à boca, enquanto a outra passava pelas fotoas.Vê-las era uma coisa, tocá-las era outras. Eu precisava senti-las. Havia fotos do meu filho quando bebê e criança de 12 anos. Tinha os cabelos iguais ao do meu ex-marido, mas eu não consegui comparar seu sorriso. O pai nunca sorria, enquanto eu havia me esquecido como sorrir há muito tempo.
Meu chocolate quente já tinha acabado. Então, saí da frente do mural de fotos e me dirigi para fora do quarto. Olhei para a cama de coberta azul com bolinhas de futebol. Era naquele lugar, onde ficava o berço anos atrás, que eu cobria, brincava, fazia cócegas... dormia com Léo há um ano atrás. Daí então, decidi que iria dormir ali mesmo. Voltei de frente para o quarto, deixei o copo na bancada ao lado dos bonecos . Tirei o roupão que vestia e fiquei só de pijama. Mas antes de desligar as luzes , lembrei que precisava tirar do meu roupão aquele papel, aquela reportagem cortada que dizia: "Mais uma vítima desse mundo violento". Dessa vez meus olhos estavam mais vermelhos, mas não estavam tristes. Estavam com raiva. Joguei a reportagem em qualquer direção, apaguei a luz e deitei na cama em meio a choros e soluços.
Quando acordei já era o dia seguinte. Fiquei deitada por mais um ou dois minutos. Tinha me esquecido como era confortável aquela cama. Levantei, arrumei tudo que havia bagunçado e saí do quarto para tomar banho e me arrumar. Antes de sair, olhei para todo o quarto admirando de novo cada pedaço daquele cômodo. Com certeza lá esrava um pedaço dele e outra parte comigo. E com um sorriso bem leve, tive que dizer: "Feliz aniversário, meu filho".

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